A convite da Pandora Filmes, assistimos ao filme “ A Bela América”, produção que chega aos cinemas brasileiros no dia 09 de novembro e foi selecionada para a 47ª Mostra Internacional de São Paulo. O longa foi uma surpresa e vamos compartilhar com vocês todas as nossas impressões!
Sobre a origem do filme
Ainda que o cinema português esteja em expansão no Brasil, com produções ganhando mais espaço e veiculação, existem pessoas que, assim como eu, não conheciam o longa e o seu diretor. Então, aqui vão algumas informações:
“A Bela América” é um filme do cineasta António Ferreira, famoso por “Pedro e Inês” (2018), “Embargo” (2011) e “Respirar (Debaixo D'água)” (2000), que lhe rendeu diversas indicações. Além de diretor, ele também atuou como roteirista deste novo lançamento e contou em entrevistas que a história foi escrita há 20 anos, fazendo com que ele tivesse que adaptar e modificar brutalmente o roteiro para os dias atuais.
Um ponto interessante é que o longa contou com uma coprodução brasileira do Canal Brasil.
Sobre a história
Lucas, um humilde cozinheiro, que mora com a mãe cega, lutando para se sustentar. América, uma mulher notável, estrela de televisão e candidata à presidência. Como mundos tão distantes poderiam se cruzar?
Após serem despejados de sua casa, Lucas atrai a atenção de América que decide contar a história do rapaz em sua campanha eleitoral. O cozinheiro se apaixona pela mulher e, decidido conquistá-la e alcançar uma vida de glamour, começa a entrar clandestinamente em sua casa para preparar os melhores pratos que ela já viu. Sem se revelar, ele desenvolve uma obsessão por esse ritual.
Assisti ao filme sem grandes expectativas e me surpreendi bastante! É difícil (e sinto que até errado) estipular uma definição única sobre o que é a obra, porque não faltam interpretações dentro do roteiro. Acima de tudo, a história fala de pessoas que são “gente como a gente” e essa é a grandeza da trama: a sua simplicidade. Lucas é um “cara real”, esse é o argumento que convence o protagonista a participar da campanha eleitoral de América. Ainda que tente se enganar, ele sabe o que isso quer dizer: uma estratégia de popularidade para angariar votos em cima de minorias.
Assim como nós, os personagens possuem sonhos e objetivos, mas encontram dificuldades que impedem a sua realização e os obrigam a encarar frustrações. Desprovido de privilégios e cansado de se entregar aos obstáculos no meio do caminho, o discurso meritocrático surge como motor para que o protagonista trace o seu próprio destino e invada a casa da mulher.
Senti diversas semelhanças com “Parasita” devido às cenas de invasão da casa e ao suspense aliado a denúncias sociais. O filme critica não só a ideia da meritocracia, mas também a noção de uma competitividade, estilo “3%”, em que as pessoas se esquecem de suas origens ao entrarem no “elevador” rumo a uma mudança de vida.
A crítica ao populismo como estratégia de convencimento e à desigualdade social é um grande espelho para a realidade que afeta não só Portugal, mas o Brasil também. Com uma direção de arte linda, os pratos preparados por Lucas foram feitos pelo vencedor do Masterchef Profissionais 2022, Diego Sacilotto!
A atuação de São José Correia, que interpreta “América”, é incrível, enquanto a dos demais personagens, em várias vezes, me pareceu um pouco enrijecida e iniciante. Sob o aspecto técnico, em várias cenas há um movimento bastante trêmulo da câmera que não me agrada muito pois deixou um sensação amadora da produção.
A cena final é incrível e repleta de interpretações, cabendo abrir espaço para cada pessoa chegar a sua própria conclusão. Mas no final, o questionamento que restou foi: De fato, é uma bela América?
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