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Foto do escritorMaria Tosin

Ainda Estou Aqui: é verdade, temos um Oscar a caminho

Atualizado: 7 de nov.

A convite da Sony Pictures, assistimos antecipadamente o filme mais aguardado do ano pelos brasileiros. Ainda Estou Aqui ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado no Festival de Veneza, foi o escolhido para representar o Brasil no Oscar 2025 e chega aos cinemas no dia 7 de novembro. Saiba o que achamos!


O enredo

Ainda Estou Aqui: é verdade, temos um Oscar a caminho

O filme é baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva e conta a história da família Paiva, que viveu durante a ditadura militar na década de 1970. Somos convidados a acompanhar o dia a dia de Rubens Paiva, Eunice e seus cinco filhos que vivem à beira da praia, no Rio de Janeiro, em uma casa que sempre estava aberta para amigos. Um certo dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece. 


O roteiro

Não li o livro que deu origem ao filme, mas imagino a dificuldade de transformar uma história tão sensível em um filme que transmitisse as mesmas emoções, mas Walter Salles, o diretor do aclamado Central do Brasil, conseguiu. No início somos apresentados a família Paiva, que mora de frente pra praia, as crianças tratam o mar como se fosse o quintal de sua casa, as cenas trazem um sabor de nostalgia único, o local é rodeado de amigos e vemos uma família feliz, aproveitando as pequenas felicidades da vida naquela época, é incrível como o filme fez um ótimo trabalho introdutório aos personagens, temos então um bom tempo de tela para nos apegarmos aos personagens e principalmente, a Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello.


Mesmo que parecesse que as coisas estavam bem, a família sempre era lembrada que o Brasil não estava bem, o medo e a insegurança instalada pelos militares estava sempre presentes para lembrar que é preciso tomar cuidado. Achei incrível também como o filme insere elementos da cultura brasileira daquela época para nos transportar ainda mais para o passado, mostrando por exemplo o hábito de passar Coca-Cola no corpo para se bronzear, além de inserir Caetano Veloso e Gilberto Gil na trama, duas figuras que também sofreram com a ditadura militar.



Tudo de melhor que o filme traz não é transmitido em palavras, diálogos, mas em cenas completamente sensíveis e muito bem interpretadas por um elenco que foi extremamente bem selecionado. O sentimento de impotência, ódio e medo que os brasileiros sentiam naquela época pairam a todos que estão assistindo ao filme, é difícil segurar as lágrimas em diversos momentos que as imagens e os olhares falam por si só.


Acompanhamos aos poucos uma família feliz sendo destruída sem motivos, um pai morto e uma mulher forte que apesar de tudo não desiste de ir em busca de justiça, não deixando que os militares acabem com a alegria da sua família.

Ainda Estou Aqui: é verdade, temos um Oscar a caminho

Há uma cena em que Eunice está respondendo as cartas que seu marido recebeu enquanto estava preso, a câmera foca no papel quando ela escreve “ele não”, o restante da frase não fica em foco, o que dificulta a leitura. Só posso estar louca se essa cena foi apenas coincidência e não uma referência a Bolsonaro, ex-presidente do Brasil que defendia a ditadura militar, a frase “ele não” foi usada diversas vezes para que as pessoas não votassem no candidato para a presidência. E se tratando de Walter Salles, eu acho pouco provável essa cena ser apenas coincidência. 


O elenco 

Como já disse anteriormente, o elenco parece ter nascido para atuar neste filme, cada pessoa foi milimetricamente pensada e colocada no papel, algo incrível e lindo de se ver. Fernanda Torres estava acostumada a atuar em séries e filmes de comédia e agora foi desafiada a atuar em um filme de drama, só tive a certeza que genética funciona e que todo o talento de sua mãe, Fernanda Montenegro, foi passado pra ela na hora do parto. Fernanda interpreta Eunice nos mais variados momentos: alegres, tristes, pesados, mas sua essência nunca muda. Selton Mello, no papel de Rubens Paiva, faz nos apegar a ele em todos os momentos que aparece em tela. Valentina Herszage parece ter se tornado a queridinha do cinema nacional e também é destaque em Ainda Estou Aqui. Fernanda Montenegro interpreta Eunice em sua velhice com Alzheimer, mesmo com pouco minutos de tela dá aula de atuação aos 95 anos. 

Ainda Estou Aqui: é verdade, temos um Oscar a caminho

A corrida ao Oscar

Ainda Estou Aqui não foi oficialmente indicado ao Oscar 2025, mas foi escolhido pelo país para ser nosso representante na premiação. A produção tem grandes chances de concorrer a Melhor Filme Internacional, e em categorias como Melhor Atriz, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Diretor. Em 2025 a corrida pela estatueta será disputada, teremos com certeza Duna 2 concorrendo a Melhor Roteiro Adaptado e A Substância concorrendo a Melhor Atriz. O brasileiro não desiste nunca e acho que devemos manter essa esperança, receber uma indicação depois de anos sem sermos notados, já deve ser considerado um Oscar pra nós.


Nosso veredito

Sim, Ainda Estou Aqui é tudo aquilo que estão falando, é um dos melhores filmes brasileiros já produzidos, conta nossa história, nossa luta, nossa cultura, não precisamos que o Oscar reconheça isso para nós, precisamos reconhecer antes dele. O Brasil sabe fazer cinema, temos um jeito único de retratar a realidade e precisamos reconhecer isso, produzir cinema no Brasil não deve ser sinônimo de fracasso, deve ser sinônimo de orgulho.



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