A 18ª CineBH, junto do 15º Brasil CineMundi, ocupou a capital mineira com uma programação recheada de oficinas e debates sobre o mercado audiovisual, além de exibir uma rica seleção de filmes do cinema latino-americano e uma homenagem especial à carreira da maravilhosa diretora Anna Muylaert.
Não ficamos de fora dessa celebração e, além de acompanhar as pré-estreias de Pasárgada, dirigido por Dira Paes, do incrível Oeste Outra Vez e do enigmático Barba Ensopada de Sangue, conferimos outros longas que marcaram presença e chamaram nossa atenção. Dá uma olhada:
Levante, da diretora Lillah Halla
O filme nos apresenta Sofía (Ayomi Domenica), uma jovem de 17 anos, às vésperas de um campeonato de vôlei decisivo para sua carreira, que vê seu futuro desmoronar ao descobrir uma gravidez indesejada. Em sua busca por uma solução, Sofía tenta interromper a gestação de forma clandestina, mas acaba se tornando alvo de um grupo disposto a impedir sua decisão a qualquer custo. Nem ela nem seus entes queridos estão prontos para ceder ao fanatismo daquelas pessoas.
O que mais me chamou atenção foi a maneira como o filme coloca Sofía em uma constante luta contra as forças externas que desejam controlar seu corpo. A atmosfera opressiva é sentida em cada cena, nos aproximando de seu sofrimento e da hostilidade que ela enfrenta. No entanto, a força que ela encontra em suas amigas transmite uma mensagem poderosa de resistência e sororidade. O filme, apesar de toda a tensão, termina com uma nota de otimismo muito bem vinda.
Elon não acredita na Morte, do diretor Ricardo Alves Jr.
Elon (Rômulo Braga) é um homem que, após o misterioso desaparecimento de sua esposa, Madalena (Clara Choveaux), começa uma busca desesperada (e longa) por respostas. Ele percorre os trajetos diários de Madalena e visita os lugares mais sombrios da cidade, mas suas tentativas o levam apenas a mal-entendidos e encontros estranhos, sem jamais encontrar um desfecho claro. A busca de Elon se transforma em uma imersão solitária pela cidade e sua mente perturbada.
A fotografia do filme aposta em manter o rosto de Elon encoberto, o deixando envolto nas sombras e na penumbra, enquanto aproveita do cenário urbano para trazer um clima de sobriedade. No entanto, o filme sofre com um ritmo lento e arrastado que prejudica a conexão com a história. Talvez ela funcionasse melhor adaptada para um curta de uns 20 minutos, ao invés de ter toda a mensagem central diluída e sem força ao decorrer da narrativa.
Nada, do diretor Adriano Guimarães
Ana retorna à fazenda onde cresceu para cuidar de sua irmã Tereza, nos últimos dias de sua vida. O filme se desenrola em um espaço vazio e silencioso, onde a comunicação entre as irmãs é escassa e a solidão da fazenda reflete a distância emocional que as separa. Adriano, conhecido por sua carreira no teatro, traz uma abordagem experimental ao seu primeiro trabalho no cinema, o que se reflete em uma narrativa e um ritmo peculiar ao longa.
A primeira metade do filme justifica o título, com uma lentidão que expressa a ausência de conexão e vida naquele lugar. A dinâmica entre Ana e Tereza é quase inexistente e vazia. No entanto, da metade para o final, a trama ganha força com a adição de um elemento místico: uma antena de sinal no alto de um monte, que de maneira enigmática desperta memórias vivas nos habitantes da fazenda. Guimarães parece querer provocar essa reflexão: quanto vale a sua memória? O filme, ainda que arrastado, acaba instigando essa questão com uma poética visual única e um olhar filosófico bem interessante.
BH celebra o cinema
Com o tema "Estados do Cinema Latino Americano", a CineBH propôs uma reflexão sobre as fases de luto e luta, celebração e confronto do audiovisual. E dentro da 18ª edição, veio uma inversão do famoso bordão da cidade: “BH é quem? BH é nóis?”, convidando o público a reafirmar sua identidade enquanto celebra várias outras enquanto o espetáculo acontece.
Eu aqui devo afirmar, temos Festivais no Rio, em São Paulo, em Gramado e até em Cannes, mas se tem uma coisa que Belo Horizonte tem é a habilidade de acolher, de celebrar, de hospedar de um jeitinho que só BH faz. E é isso que tornou o CineBH tão especial: trazer voz e palco a pessoas de diferentes lugares e diferentes vivências, para criar cinema junto com a próxima geração de cineastas do cinema nacional, celebrando os novos e os já conhecidos talentos.
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