As animações mudaram. Sejam elas para o público infantil ou para os mais velhos, elas abordam cada vez mais assuntos sociais que eram tabus e/ou trazem reflexões sobre qual o nosso papel na sociedade. Uma das formas mais utilizadas para tornar esses assuntos mais palatáveis é o uso do humor. Monty Python nos mostrou que quanto mais absurdo esse humor, melhor. Se você não sabe do que estou falando, veja “Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado” e “A Vida de Brian”, que logo você entenderá. Esse texto vai buscar entender como esse humor do absurdo mudou ao longo do tempo utilizando algumas animações de sucesso como exemplo.
O absurdo que é a sociedade
É fácil entender o porquê Os Simpsons “prevê o futuro”: a nossa sociedade está cada vez mais absurda e está se tornando a sociedade absurda e potencializada que o desenho retrata desde 1981. A série não aposta no desenvolvimento dos personagens neles mesmo, tanto que até hoje eles nunca envelheceram, mas busca o humor na forma que os absurdos do meio e da sociedade influenciam (influenciam, não determinam, porque eles NUNCA determinam - não venham com determinismo geográfico pra cima de mim) como os personagens vão agir e como eles vão se comportar. E isso é algo comum nas produções do Matt Groening, como por exemplo Futurama e (Des)encanto, em que ele explora outros contextos históricos. Outra produção que se utiliza disso e de uma forma muita mais pesada é South Park.
Mas e se o problema sou eu?
Depressão, ansiedade e estresse são doenças cada vez mais discutidas por, feliz e finalmente, terem deixado de ser tabus. Uma das melhores formas de quebrar essa barreira é torná-los midiáticos sem romantiza-los e BoJack Horseman faz disso o seu maior trunfo. O humor da série é baseado na autodepreciação dos personagens e como isso altera a própria percepção na sociedade. Não que os absurdos dela não sejam importantes na série, mas suas discussões se apresentam como consequências dos atos dos personagens. Nela vemos os personagens em jornadas niilistas que buscam entender como se encaixam na sociedade e o que devem fazer para que eles sejam bons diante dela. É bem provável que seja por isso que muitas pessoas se identificam com os personagens e sentem um desconforto, como um soco na barriga, ao ver a série.
Nem um, nem outro. Os dois.
“Por que só a sociedade ou só a minha existência são um absurdo? Por que a sociedade e a minha existência não podem ser absurdas?”. É isso que pensou Dan Harmon quando ele criou Rick & Morty. A série acompanha personagens extremamente niilistas, bem como os de BoJack, que influenciam e são influenciados por uma sociedade extremamente absurda, potencializada pela vastidão do espaço e pela existência de múltiplas realidades. E essa dialética - os personagens devem sair da zona de conforto por querer algo, encarar situações nem um pouco familiares, se adaptar a elas, conseguir o que querem, pagar um preço indesejado por isso, para então retornar à zona de conforto, mas mudados em comparação ao que eram - não é desproposital, pois é a forma que Harmon conta suas histórias. Essa relação é o que faz da série a animação ser, provavelmente, o maior sucesso recente do gênero.
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