Nicolas Cage está de volta em um papel inusitado. “O Homem dos Sonhos”, produzido pela A24, é o novo trabalho do ator que estreia no Brasil no dia 28/03. À convite da California Filmes, fomos convidados para a cabine de imprensa do longa e vamos contar em primeira mão o que achamos da produção!
Trama
Paul é um senhor de meia idade que vive uma vida entediante e comum. Sua rotina se divide entre o seu trabalho como professor universitário de Biologia e sua ocupação como pai e marido, em ambas as esferas ele não é feliz e realizado. Do dia para a noite, ele começa a ser conhecido no mundo por um motivo incomum: Toda noite ele aparece no sonho das pessoas. Como um foguete rumo ao desconhecido, ele embarca em uma viagem pela fama, a viralização nas redes e os impactos desse fenômeno em sua vida.
Felicidade na era digital: o preço da fama
Você já ouviu a frase “É melhor ser temido do que ser amado”? Em “O Homem dos Sonhos” a reflexão seria “é melhor ser desconhecido do que ser cancelado”!
Construindo uma sátira reflexiva sobre as dinâmicas da era digital, o filme reúne diversos acontecimentos, exemplos e dilemas reais em uma figura fictícia, com a qual é impossível não se identificar.
Paul exala resignação a sua mediocridade. Ele reúne diversos “e se” que, por insegurança, comodismo ou outros fatores que não foram levantados na obra, nunca foram desenvolvidos. A vontade de ser um professor querido, um pesquisador renomado, escritor publicado e um pai exemplar guardam uma semelhança: todos são sonhos aos quais Paul nada faz para alcançar.
Tantas frustrações constroem um homem carente, arrogante e imaturo que, diante da grande atenção advindas de pessoas desconhecidas, se joga na figura viral que se tornou. O grande problema é que a internet é uma faca de dois gumes e quando menos esperamos somos apunhalados pela fama que tanto buscamos.
Quando os sonhos começam a virar pesadelos, nos quais Paul comete atrocidades contra as pessoas, o filme dá lugar ao suspense e muda de rumo. Com a mesma fragilidade e volatilidade às quais estamos acostumados, vemos em segundos a popularidade de Paul dar lugar ao ódio e à repulsa, levando ao temido cancelamento.
O ordinário é extraordinário (principalmente fora das redes)
O filme explora a dualidade entre ficção e realidade através da analogia dos sonhos. Quando Paul começa a receber os relatos, o que o incomoda não é o fenômeno mundial bizarro em que está envolvido e sim a sua posição de mero figurante nos sonhos. A passividade do protagonista é tão forte que transcende a barreira do real e ocupa o mundo onírico, reforçando o comodismo com relação ao (des)conforto de sua vida.
Não fica difícil entender o porquê do personagem, diante da atenção recebida, imergir nesta febre viral. Assim como ele explica em uma aula, o fenômeno retirou a sua camuflagem, destacando-o no mundo e tornando-o especial.
A grande sacada da produção é dizer o óbvio nas entrelinhas e mostrar o que acontece com milhares de pessoas todos os dias. Luva de Pedreiro, Psy, Sthefany Absoluta, a família do hit “Para Nossa Alegria” e Paul Matthews. Do dia para a noite a fama os alcançou e em instantes o glamour sumiu dando lugar ao julgamento, ódio, solidão e esquecimento. Acreditamos que o mundo digital é incrível e as pessoas são mais felizes dentro dele, mas a cobrança que não vemos no final da conta é o preço desse “reconhecimento”.
Como se a vida comum fosse um pesadelo, somos levados a refletir sobre o extraordinário que há no ordinário. O poder de relações, carreiras e conquistas verdadeiras e sólidas jamais deve ser subjugado à frieza e à instabilidade da ilusão das redes.
“O Homem dos Sonhos” é muito maior do que poderia dizer nessa crítica, divertido, instigante, cheio de ensinamentos e com atuações incríveis ele é um prato cheio e inesperado que nos leva a pensar: qual o preço da fama?
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