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  • Foto do escritorMarcos Silva

Oeste Outra Vez: homens rudes, amores perdidos e o charme do sertão goiano

No dia 27 de setembro, o CineBH exibiu na Mostra Vertentes a pré-estreia nacional de Oeste Outra Vez, o mais novo longa do diretor Erico Rassi. O filme nos leva ao sertão de Goiás onde homens, marcados pela dureza e as amarguras de suas vidas, são constantemente abandonados pelas mulheres que amam. Incapazes de expressar suas emoções, eles se viram um contra o outro e mergulham em um ciclo de violência e ressentimento sem fim.

Oeste Outra Vez: homens rudes, amores perdidos e o charme do sertão goiano

Com um olhar afiado para o faroeste à brasileira, Erico Rassi, que além de dirigir, também assina o roteiro, constroi uma narrativa que se assemelha aos clássicos do gênero, mas também evidencia os específicos da cultura goiana. O resultado é uma aventura divertida com uma ambientação rústica que revela camadas profundas de emoções e conflitos humanos.


Os brutos também amam (e te fazem rir)

A escolha do elenco traz uma energia única ao filme que só uma boa parceria entre atores poderia proporcionar. Ângelo Antônio, veterano de peso, dá vida ao cabisbaixo Totó, um heroi perdido que anda com os ombros pesados após perder a mulher para Durval, interpretado por Babu Santana. As cenas de tensão entre eles são quase tão saborosas quanto uma briga de bar à moda antiga. Destaco também a dupla de matadores vivida por Daniel Porpino e Adanilo, da qual viajamos junto uma boa parte do filme. E claro, a participação breve mais de peso do incrível Antônio Pitanga como o Ermitão.

Oeste Outra Vez: homens rudes, amores perdidos e o charme do sertão goiano

Tecnicamente, o filme brilha. A fotografia aproveita todo o sertão quente e árido de Goiás, transformando o cenário em mais um personagem da narrativa. A cenografia é impecável, cuidando de cada detalhe, das casinhas aos bares, para que tudo pareça o mais real possível. A simplicidade da paisagem é o que a torna tão cinematográfica. É aquele sertão bruto, mas cheio de vida e cor.


Os homens desta terra são rígidos e ingênuos ao mesmo tempo, brutos no jeito, mas de coração mole. E os diálogos são uma obra à parte. No ritmo vagaroso e melódico do sertão, cada frase parece carregada de uma mistura de melancolia e humor irônico. O tempo é um ingrediente crucial aqui: um silêncio ou pausa a mais poderia quebrar a dança dos diálogos, que são breves e certeiros. O filme te transporta para um lugar onde as palavras são poucas, mas o impacto delas é grande.


Ninguém ali atira bem

Oeste Outra Vez traz um humor que reside nas interações entre os personagens e na cadeia de eventos que se desenrolam nas tentativas de Totó de matar Durval (e vice versa) e recuperar sua mulher. Entre perseguições de carro e contratar armeiros que atiram tão mal quanto recuperaram de seus corações partidos, o filme nos presenteia com uma descontração que vai acontecendo de forma espontânea, suave e leve.

Oeste Outra Vez: homens rudes, amores perdidos e o charme do sertão goiano

É de notar que o roteiro nos conduz a eventos que delimitam as ações daqueles personagens presos a um ciclo infinito de perder suas esposas e descarregar sua frustração uns nos outros. Em nenhum momento Erico julga as ações que acontecem ali, ele às honra como parte da vivência que ocorre naquele lugar, ao mesmo tempo que deixa esse papel para a audiência: de refletir sobre o lugar da masculinidade e o quão rígido um homem deve se tornar para se adaptar a ela.

Não é à toa que o filme levou o prêmio de Melhor Longa-Metragem Brasileiro no Festival de Gramado. É um faroeste feijoada, delicioso e servido com muita pinga e limãozinho. Com um roteiro bem ensaiado, ele circula pela vida dos homens do sertão de Goiás de maneira autêntica e divertida, sem distinção de importância entre suas alegrias e desilusões. E como pode a mulher que foi embora nos primeiros dois minutos do filme permanecer tão presente durante toda a trama? É essa sutileza que dá ao filme seu charme.


É o último dia da sua vida, você faria alguma coisa diferente? Eu talvez assistiria Oeste Outra Vez, outra vez... É, pode ser que sim.


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