Dark é um paradoxo de Bootstrap alimentado por sobreposição quântica, regulado pela autoconsistência de Novikov, onde pontes de Einstein-Rosen e bóson de Higgs são usados para viajar no tempo, que está num emaranhamento quântico e com uma pitada de conceitos religiosos. Esse é o resumo da série considerada como a obra-prima da Netflix. A intenção dessa lista é explicar esses conceitos científicos usados e que, uma vez entendidos, podem facilitar o entendimento da série. Para tanto, me inspirei em vídeos e matéria que explicam sobre, já que estou longe de ser um especialista na área.
Se você quiser ler somente os conceitos e não tomar spoilers, sugiro que não leia as partes “na série” porque elas estão recheadas deles.
Buraco de minhoca
As pontes de Einstein-Rosen, como são cientificamente chamados os buracos de minhoca, são túneis hipotéticos que conectam dois pontos do espaço-tempo (a junção das 3 dimensões espaciais com a dimensão tempo). Através delas, seriam possíveis viagens espaciais mais rápidas e até mesmo viagens no tempo. Os buracos de minhoca são hipotéticos pois não há energia e nem densidade suficientes que poderiam estabilizá-los, embora um buraco negro super denso poderia criar um.
Na série: Apresentados erroneamente como buracos negros, os túneis abertos pelo Sic Mundus e Et Erit Lux nas cavernas de Winden e usados para as viagens no tempo são exemplos de buracos de minhocas.
Partícula de Deus (Bóson de Higgs)
Num show lotado você até que consegue passar tranquilo pelo público, mas se um integrante da banda tentar passar, ele terá bem mais dificuldades. Nessa analogia, cada pessoa do público seria um bóson de Higgs, você e o integrante da banda seriam partículas e a dificuldade pra passar seria a massa criada pela interação. O bóson de Higgs é uma partícula fundamental (que não tem divisão), que se espalhou pelo universo criando um enorme Campo de Higgs e que interagem com algumas das demais partículas (quarks, elétrons, outros tipos de bósons), dando-lhes massa. Isso é importante porque assim é criada a matéria, já que ela é aquilo tudo que tem massa. A luz (fótons) não interage com o campo e por isso não tem massa. O bóson de Higgs recebeu o apelido de Partícula de Deus (God Particle) devido a um livro de mesmo nome, mas originalmente a publicação era pra ser chamada de Partícula Maldita (Goddamn Particle), devido à dificuldade dela ser encontrada, o que só ocorreu em 2008, no acelerador de partículas LHC.
Na série: A série usa esse conceito de forma diferente. A partícula se origina no acidente da usina nuclear de Winden em 1986, é estabilizado depois de muitos anos, e então os personagens conseguem fazer viagens no tempo por ele, funcionando como um buraco de minhoca.
Paradoxo de Bootstrap
Imagine a seguinte situação: você é apaixonado por um certo livro e descobre uma forma de viajar no tempo. Então você decide viajar para um momento anterior do ano que o autor escreve o livro e dá para o autor a sua cópia. Inspirado por ela, ele decide escrever o livro e o lança na data original. A questão é: qual a origem do livro, a data original ou a sua cópia? Isso é o Paradoxo de Bootstrap, você não sabe identificar quando algo começa e quando ela termina, pois um depende do outro, e isso cria um loop temporal.
Na série: O começo é o final e o final é o começo. O mote da série já descreve esse paradoxo, que inclusive é explicado e muito utilizado na série. O exemplo do livro é usado com o escrito por H. G. Tanhauss, mas é levado muito mais ao extremo com a relação entre Charlotte e Elizabeth, em que a Charlotte é filha da sua própria filha. Nisso, quem é que dá origem uma pra outra? Além disso, os ciclos do apocalipse ocorrem por causa dele.
Princípio da autoconsistência de Novikov
Sabe o Paradoxo do Avô, aquele que pergunta "o que aconteceria se você viajasse no tempo e matasse o seu avô?" Segundo esse princípio, você não conseguiria matá-lo e tudo seguiria do mesmo jeito. Isso porque o princípio diz que são 0 as chances que haja eventos que mudem o passado ou criem paradoxos, pois seriam contrários às leis da física. Aqui o Paradoxo de Bootstrap seria impossível, já que vai contra a 2ª lei da termodinâmica (o grau de entropia - ou desordem - sempre tende a aumentar) e ao trazer um objeto do futuro pro passado você estaria diminuindo esse grau, certo? Errado. A teoria diz que esse paradoxo pode ocorrer pois a mudança seria auto-consistente na história, ou seja, já seria parte dela e não estaria tentando modificá-la.
Na série: Tudo o que os personagens tentam fazer e não conseguem é regido por isso. Seja tentar evitar que o Mikkel viaje no tempo, que o apocalipse aconteça ou que Adam destrua a origem que ele acreditava ser. Mas o momento em que isso é mais evidente é quando o Noah jovem salva o Jonas da sua tentativa de suicídio e explica que ele não poderia se matar porque uma versão dele ainda existe no futuro. Isso inclusive é o que fomenta as discussões sobre o livre-arbítrio na série, afinal, eles realmente seriam livres pra fazer o que querem?
Sobreposição quântica (Gato de Schrödinger)
Em uma caixa você põe um gato, um recipiente que emite radiação e um martelo ligado a um mecanismo que vai fazer o martelo quebrar o recipiente ao detectar a radiação. Se o martelo quebrar o recipiente, o gato morre. Se não, o gato vive. Esse sistema é vedado e você não consegue observar o que acontece dentro da caixa, portanto não sabe se o gato está vivo ou morto. Esse estado de incerteza, do gato estar vivo ou morto (porque não os dois ao mesmo tempo?), é a sobreposição quântica. Na evolução desse estado, os cenários em que o sistema pode estar são considerados verdadeiros até que se faça a observação e o resultado final é a soma de todos eles.
Na série: A sobreposição quântica acontecesse quando a Martha do mundo de Eva pode ou não salvar o Jonas do apocalipse de seu mundo. Como vemos na série, ela precisa decidir se salva o seu amado ou se acompanha o Bartosz. Esse sistema evolui para o cenário em que o Jonas é salvo pela Martha e vai até o mundo da Eva onde é morto, e também para aquele em que o Jonas sobrevive, se torna sua versão adulta e depois o Adam. Todos esses cenários interagem, alimentando o Paradoxo de Bootstrap.
Emaranhado ou entrelaçamento quântico
Esse conceito ocorre quando dois corpos estão relacionados em um sistema quântico. Esse relacionamento, sem observações, está em sobreposição quântica, pois não sabemos como os corpos se comportam, mas a partir do momento que a observação é feita, descobrimos que um corpo age de forma oposta ao outro porque o contrário é a única informação que resta. Além disso, as ações realizadas num desses corpos gera, fantasmagoricamente, a mesma a ação no outro, mesmo que ele esteja anos luz distantes. Exemplo: numa caixa tem 2 bolas, uma verde e uma vermelha, e você tem que tirar uma. Antes de você tirar a bola, elas estão em estado de sobreposição quântica, mas ao tirar a verde, você quebra esse estado e portanto sabe que a que sobrou foi a vermelha. Se você decide polir a bola verde, por estarem emaranhados, a bola vermelha também será polida.
Na série: O conceito é usado na série para explicar a sobreposição, mas é possível observá-lo no espelhamento dos mundos de Adam e de Martha criados a partir do mundo de Tanhauss, porém sem a questão da ação fantasmagórica.
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