Adaptar livros para o cinema é sempre um desafio, especialmente quando se trata de spin-off. Pássaro Branco, do universo de Extraordinário, chega aos cinemas no dia 14 de novembro escolhendo voltar ao passado para contar uma nova história. Mas será que essa adaptação era realmente necessária? Te conto a seguir!
Os primeiros capítulos
A história do filme se passa alguns anos após os acontecimentos de Extraordinário, e passa a acompanhar Julian Albans, o garoto que fazia bullying com Auggie, vivendo em Nova York após deixar a escola Beecher Prep. O garoto recebe a visita da avó Sara Albans que tem uma história importante sobre seu passado para contar a ele.
Quando tinha a mesma idade do neto, Sara viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial como uma garota judia na Alemanha ocupada pelos nazistas. Ela conta como conseguiu atravessar o holocausto com a ajuda da família de um colega de classe que mal a conhecia, mas que colocou sua vida em risco a fim de acolhê-la, se tornando a sua salvação naquele período terrível.
O filme acompanha a ideia do livro de retornar ao universo de Extraordinário com a visão de uma história totalmente nova, e esse é o único elo de convergência entre as duas produções. Apesar disso, ele procura emular o cuidado que o primeiro teve com assuntos mais delicados e tocantes.
As atuações de Pássaro Branco
A atuação de Helen Mirren está muito boa como sempre. Sua presença é limitada, fazendo o papel de narradora, algo que ela já provou antes ser excelente (lembra de Barbie?). Bryce Gheisar volta para reprisar o papel de Julian, e com pouco tempo de tela, ele entrega o necessário para o seu papel.
Os destaques reais ficam para Ariella Glaser, que brilha interpretando a versão jovem de Sara, e Orlando Schwerdt como Julien, um personagem benevolente, doce, corajoso, que não aceita ser visto apenas pela sua deficiência, e se prova um heroi e ponto chave da história. Gillian Anderson, como a mãe de Julien, aparece brevemente, mas é sempre um prazer vê-la.
O Vincent dessa adaptação interpretado por Jem Matthews é um ótimo vilão para essa história. Ele é um jovem que vê no nazismo que penetra naquela cidade uma oportunidade de liberar todo o ódio reprimido dentro de si. O ator consegue trazer toda a ignorância e crueldade distorcida de alguém que se deixa corromper em nome de um perverso “propósito maior”.
Veredito final
A história passa uma atmosfera sufocante nos colocando na perspectiva de uma jovem impedida de existir plenamente. Ainda assim, ela consegue nutrir um fio de otimismo, graças à ajuda de seu novo amigo - que está prestes a se tornar algo mais.
É verdade que o final parece ser muito poético e que o desfecho de um certo personagem parece muito sem pé nem cabeça, mas de fato o filme consegue te envolver na narrativa que a obra original propôs. Ele te cativa com os personagens, os diálogos, o uso da imaginação para se abster do que está acontecendo na realidade e a construção gradual e envolvente no relacionamento dos dois jovens. Ele te coloca em estado de alerta nos momentos mais tensos, e tudo isso é eficaz.
A mensagem que o longa tenta trazer é sobre a coragem necessária para ser gentil, algo que parece esquecido nos dias de hoje. Não é nada revolucionário e nem tenta ser. Ele não te irrita ao passar uma mensagem de positividade forçada, mas nos oferece um otimismo leve e sincero, que toca sem exageros.
Se por um lado temos o silencioso mas arrebatador Zona de Interesse, às vezes, procurar por algo com uma lente mais esperançosa pode não fazer tanto mal assim.