Dayane vai embora de repente e deixa apenas um bilhete no quarto. Este é o ponto de partida para Quando Eu Me Encontrar, filme brasileiro dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena, que estreia no Brasil no dia 19 de setembro. Com essa premissa simples o longa mergulha nas consequências de sua ausência e no impacto que isso tem sobre aqueles que ficaram: sua mãe Marluce (Luciana Souza), sua irmã Mariana (Pipa) e seu noivo Antônio (David Santos).
Onde é que tá a Dayane?
Marluce reage à partida da filha com uma calma quase desconcertante, aceitando a situação com uma postura de conformismo. A sua falta de reação, por mais fria que pareça, é a forma que ela encontra de lidar com a incerteza que vai se intensificando durante a narrativa.
Para Mariana, a saída repentina da irmã a deixa sem base. Ela encara os desafios da adolescência agora com o peso de viver sem o apoio e a companhia de Dayane. As cobranças de sua mãe, sempre presente, marcam essa sensação de desamparo, criando um ciclo de tensões familiares durante o filme.
Antônio, por sua vez, vive um luto particular. Ele esperava um futuro ao lado de Dayane, imaginando um reconhecimento que nunca veio. A situação o coloca em uma posição de fragilidade emocional, enquanto tenta entender por que foi deixado para trás. Sua dor é diferente da de Marluce e Mariana, e o filme se apoia nessa diversidade de sentimentos para construir todo o seu drama.
Deixe-me ir, preciso andar
Com pouco mais de uma hora de duração, Quando Eu Me Encontrar é um filme curto, mas direto, que não perde tempo em explorar como o desaparecimento de Dayane afeta profundamente a vida dos três protagonistas. O roteiro não se estende em diálogos ou cenas desnecessárias, o que dá à trama um ritmo ágil, mas sem sacrificar o peso emocional.
As atuações são um dos pontos altos do filme. Di Ferreira, no papel de Cecília, amiga de Dayane, entrega uma interpretação efervescente e cheia de nuances. David Santos também merece destaque pela honestidade que traz ao papel de Antônio. Sua atuação nos faz sentir o peso do luto e da frustração de alguém que foi deixado sem explicações.
As diretoras Amanda Pontes e Michelline Helena destacam que a intenção do filme nunca foi fazer algo focado no nordeste, mas sim contar uma história sobre pessoas, suas experiências e o cotidiano que as cerca. Esse foco torna Quando Eu Me Encontrar uma obra acessível, com personagens e situações com as quais o público consegue se identificar instantaneamente.
Rir pra não chorar
Quando Eu Me Encontrar é um filme, sincero e direto ao ponto, sem espaço para exageros melodramáticos. O drama do filme está ancorado nas vivências simples, mas cheias de significado, que trazem à tona questões profundas. O que levou Dayane a abandonar tudo que conhecia? Essa pergunta ecoa ao longo da trama, deixando o público reflexivo sobre as escolhas de vida, a liberdade e os laços familiares.
O filme deixa sua marca justamente por ser tão real e poético ao mesmo tempo. Ele é nordestino, periférico e traz a vida real de forma crua e contida, mas ao final, de alguma forma, fica com você. A história se enraíza e provoca reflexões silenciosas sobre o que significa seguir em frente, seja para quem fica ou para quem parte.
A mãe Marluce é o elo do filme, e busca sem perceber, por uma reconciliação interna. Ela revisita o próprio passado e tenta decifrar onde, se é que em algum momento, ela errou com Dayane. Quando ela finalmente deixa de lado a constante angústia pela filha e se permite ir ao forró com uma amiga, há uma sensação de libertação. Ela começa a entender que a decisão de Dayane, por mais dolorosa e misteriosa que pareça, pode ter sido necessária. A canção de Cartola, Preciso Me Encontrar, que abre e permeia o filme, parece dizer exatamente isso. No final, Marluce recebe a mensagem que tanto esperava: sua filha está bem.
Quando Eu Me Encontrar retrata com delicadeza o difícil processo de lidar com partidas inesperadas. Ele mergulha no realismo para explorar a vida de personagens periféricos lidando com a ausência de uma maneira profundamente humana. A forma como o tema é abordado, sem precisar de grandes resoluções ou respostas definitivas, é o que dá ao filme seu poder emocional, permitindo que suas mensagens sutis permaneçam com a gente após os créditos finais.
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