Ted Lasso foi um fenômeno cultural que pegou o mundo de surpresa. Lançada no meio da pandemia, ela trouxe no seu enredo uma positividade necessária para a época, ressaltada principalmente pela palavra tema da série: Belive (acredite em português). Porém, a história do carismático técnico do AFC Richmond, Ted Lasso (Jason Sudeikis), terminou, nesta 3ª temporada, como uma caricatura de si mesma, o que não é de todo ruim. Vem entender a seguir onde foi que a série pecou e acertou em sua temporada final.
Há uma falta de conflitos
Se nas duas primeiras temporadas os personagens são postos em conflitos constantes, nesta não há. Na primeira temporada, Rupert (Anthony Head), ficou com o fardo de vilão, enquanto na 2ª, os conflitos eram mais internos que com alguma figura exterior. Porém, ao final dela, foi passada a ideia de que Nate (Nick Mohammed) seria o antagonista da 3ª temporada, o que não aconteceu. Até mesmo os conflitos internos passaram a ser mais superficiais, com raras exceções. E muito disso se deve à saída da Dra. Sharon Fieldstone (Sarah Niles), a psicóloga que auxilia Ted com suas crises de pânico e o restante do time.
Personagens coadjuvantes tiveram quase spin-offs
Com a falta de conflitos, a série foca em enredos próprios para os personagens coadjuvantes, o que de certa forma, justifica o aumento da duração dos episódios de 30 minutos para 1 hora. O roteiro cria novos cenários e resoluções ao longo da temporada para situações que deixou em aberto ao final da 2ª temporada, mas sem as conexões com o resto dos núcleos. São exemplos a relação entre Roy (Brett Goldstein) e Jamie Tartt (Phil Dunster), a independência de Keeley (Juno Temple), a vida amorosa de Rebecca (Hanna Welton), e principalmente, a carreira de Nate como técnico do West Ham de Rupert.
O futebol foi melhor caracterizado, mas há ressalvas
Na temporada em que os produtores tiveram o direito de uso de imagens da Premier League, a série trabalhou bem melhor o futebol no geral. Seja nas discussões de vestiário nos intervalos dos jogos ou então na viagem (literal e não literal) que Ted tem nos Países Baixos e que “inventa” o Futebol Total, método de jogo criado exatamente neste país na década de 70. Também trouxe discussões para o extracampo, como o papel dos atletas em discussões políticas, já que há algumas pessoas que erroneamente acham que eles não se misturam, a homossexualidade no esporte, através de Hughes (Billy Harris), e a criação de uma Superliga com os times mais ricos da Europa, proposta pelo bilionário Edwin Akufo (Sam Richardson), o que de fato ocorreu na vida real, mas que durou somente 24 horas devido aos protetos das torcidas, que pediram os jogos nas noites frias de Stoke e não somente num torneio eltista.
Porém, é necessário fazer algumas ressalvas: primeiro a série deixa meio implícito que a única forma de se vencer no futebol é com o Futebol Total, o que pode criar uma falsa verdade para aqueles que estão conhecendo o esporte pela série (o que é bem comum nos Estados Unidos), e segundo, que, infelizmente, a forma com que os companheiros reagem quando Hughes se assume, dificilmente seria a regra, apesar de a série ter todos os méritos de mostrar quão comum é normal uma notícia dessas deveria ser.
Enfim foi consolidada como um marco cultural
Uma das coisas mais interessantes de se acompanhar nesta 3ª temporada foi a ânsia e o buzz que cada episódio gerava, coisa que as outras temporadas não possuíam por ser uma série, digamos, “underground”. Além da Nike passar a ser patrocinadora do AFC Richmond, um fato que demonstra essa consolidação foram os clubes reais que apareceram na série, sejam da Premier League ou então o gigante Ajax, criando conteúdos relacionados com a série. O Chelsea, por exemplo, na estreia da 3ª temporada, divulgou artes de jogo e entrevista pré-jogo com o então técnico, Graham Potter. Além disso, foi interessante ver também o cameo de Pep Guardiola, treinador do Manchester City e um dos maiores da história, no penúltimo episódio.
Apesar de tudo, continuou esquentando o coração
Mesmo sendo mais caricata, a terceira temporada de Ted Lasso continuou esquentando corações. A onda de positividade que ela trás consigo ainda é enorme e é impossível não terminar cada episódio com um sorriso no rosto. Como o próprio Jason Sudeikis brincou sobre não conseguir entender o sucesso de Ted Lasso nos Estados Unidos, já que a série envolve coisas que americano não entende, que é futebol e gentileza. E a grande lição que Ted Lasso trouxe não foi sobre futebol, mas sim o que Higgins (Jeremy Swift) diz para Roy no último episódio: “seres humanos não perfeitos, Roy. O melhor que podemos fazer é buscar ajuda e aceitá-la quando puder. E se você continua fazendo isso, você sempre se tornará melhor”.
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